<em>Tudo bons rapazes</em>
No passado fim de semana, um semanário português noticiava um relatório, elaborado pelo Conselho de Cooperação Económica (CCE), com uma análise da situação económica actual e recomendações ao Governo português. Habituada à infindável terminologia europeia, dei por mim intrigada com este Conselho e o seu citado presidente - Andrea Canino. O CCE não é uma instituição europeia, não faz parte do costumeiro rol de ONG que gravitam na esfera europeia, não representa instâncias governamentais. Então, o que é o CCE e porque se debruça sobre a realidade portuguesa?
Protagonistas
O relatório entregue na segunda-feira ao ministro da Economia português refere que o modelo de desenvolvimento económico adoptado nos últimos 25 anos poderá provocar uma das crises mais graves da história recente. Diz ainda que o modelo aplicado está em vias de esgotamento, que a situação não é passageira e é resultado de problemas conjunturais e estruturais. Até aqui, e não fosse o suspeito elenco português na administração (os presidentes da Brisa, Banco Espírito Santo e PT), poderia concordar com a análise, acrescentando que a situação é, em grande parte, o resultado das políticas seguidas. Os problemas começam quando o CCE aponta cinco exigências para enfrentar a situação: reduzir a Administração Pública em 150 mil pessoas, flexibilizar as regras de conclusão e ruptura dos contratos de trabalho, dar um novo impulso às privatizações, resolver o problema da justiça e atacar as questões fiscais. Agora sim, o quadro começa a compor-se.
Após alguma investigação, foi possível dissipar parte da cortina de fumo que parece envolver um relatório que Canino referiu como sendo uma «oportunidade histórica» para Portugal. O CCE foi criado em 2002 e auto-intitula-se um «traço de união entre os governos e os líderes económicos da Europa do Sul». Afirmam-se «um think tank que trabalha para uma maior competitividade e coesão económica da região», sendo essa região o conjunto da Espanha, França, Itália e Portugal. Como objectivos para 2005 e 2006, referem «agir para o reforço da competitividade e do peso da região no contexto europeu e internacional, promover projectos de interesse comum e contribuir para a eliminação dos entraves à integração regional, criar relações pessoais fortes entre os principais dirigentes económicos, as instituições europeias e os governos e alargar o modelo de diplomacia económica informal». Para quem considera que as recorrentes referências às ligações entre poder económico e político são devaneios, aconselho vivamente a leitura – preto no branco – das actividades destes senhores. Outro elemento de interesse a acrescentar é o facto do CCE ter «patrocinadores» dos seus trabalhos que, no caso português e além das empresas presentes no Conselho de Administração, se estendem ao Grupo Amorim, BCP, EDP, Portugália e REN. Também Durão Barroso tem acompanhado e apoiado este trabalho. Tudo bons rapazes.
Ilações
As cinco exigências são acompanhadas de outras tantas recomendações a aplicar até 2010, no que chamam um «Plano Nacional de Acção», assumido por todos os portugueses – já só faltava o apelo ao sacrifício nacional. Os autores da proposta consideram que isto não pode ser apenas uma bandeira política mas antes uma visão partilhada por todos os portugueses. Eu diria antes que seria preciso ser cego para partilhar esta visão!
Não sei se Manuel Pinho tremeu com a análise apresentada pelo CCE mas certamente não reprimiu um sorriso quando as soluções assomaram no relatório. A crise em que o país mergulhou é uma realidade a que ninguém se pode escusar. No entanto, os planos salvadores da pátria, que continuam a pulular e que não trazem mais do que soluções conhecidas e estafadas à custa dos do costume, não acrescentam muito. Com tanto patrocínio e apoio esperava-se um resultado mais elaborado e, no mínimo, original, apesar da incontornável marca de classe que certamente carregaria.
Em vésperas de eleições, não posso deixar de apelar ao voto na CDU, no próximo domingo. Todos somos poucos para ressaltar o valioso papel que o PCP sempre teve no desenvolvimento do poder local e para levar mais longe as propostas, o projecto e o compromisso da CDU. Por todo o país, travamos uma luta desigual pela informação, pelo debate, pelo esclarecimento, insistindo em não cair no fait-divers e na campanha demagógica e caluniosa que enche os telejornais diários. No domingo, que não faltem votos na CDU para levar mais longe um projecto autárquico valioso na defesa dos interesses das populações.
Protagonistas
O relatório entregue na segunda-feira ao ministro da Economia português refere que o modelo de desenvolvimento económico adoptado nos últimos 25 anos poderá provocar uma das crises mais graves da história recente. Diz ainda que o modelo aplicado está em vias de esgotamento, que a situação não é passageira e é resultado de problemas conjunturais e estruturais. Até aqui, e não fosse o suspeito elenco português na administração (os presidentes da Brisa, Banco Espírito Santo e PT), poderia concordar com a análise, acrescentando que a situação é, em grande parte, o resultado das políticas seguidas. Os problemas começam quando o CCE aponta cinco exigências para enfrentar a situação: reduzir a Administração Pública em 150 mil pessoas, flexibilizar as regras de conclusão e ruptura dos contratos de trabalho, dar um novo impulso às privatizações, resolver o problema da justiça e atacar as questões fiscais. Agora sim, o quadro começa a compor-se.
Após alguma investigação, foi possível dissipar parte da cortina de fumo que parece envolver um relatório que Canino referiu como sendo uma «oportunidade histórica» para Portugal. O CCE foi criado em 2002 e auto-intitula-se um «traço de união entre os governos e os líderes económicos da Europa do Sul». Afirmam-se «um think tank que trabalha para uma maior competitividade e coesão económica da região», sendo essa região o conjunto da Espanha, França, Itália e Portugal. Como objectivos para 2005 e 2006, referem «agir para o reforço da competitividade e do peso da região no contexto europeu e internacional, promover projectos de interesse comum e contribuir para a eliminação dos entraves à integração regional, criar relações pessoais fortes entre os principais dirigentes económicos, as instituições europeias e os governos e alargar o modelo de diplomacia económica informal». Para quem considera que as recorrentes referências às ligações entre poder económico e político são devaneios, aconselho vivamente a leitura – preto no branco – das actividades destes senhores. Outro elemento de interesse a acrescentar é o facto do CCE ter «patrocinadores» dos seus trabalhos que, no caso português e além das empresas presentes no Conselho de Administração, se estendem ao Grupo Amorim, BCP, EDP, Portugália e REN. Também Durão Barroso tem acompanhado e apoiado este trabalho. Tudo bons rapazes.
Ilações
As cinco exigências são acompanhadas de outras tantas recomendações a aplicar até 2010, no que chamam um «Plano Nacional de Acção», assumido por todos os portugueses – já só faltava o apelo ao sacrifício nacional. Os autores da proposta consideram que isto não pode ser apenas uma bandeira política mas antes uma visão partilhada por todos os portugueses. Eu diria antes que seria preciso ser cego para partilhar esta visão!
Não sei se Manuel Pinho tremeu com a análise apresentada pelo CCE mas certamente não reprimiu um sorriso quando as soluções assomaram no relatório. A crise em que o país mergulhou é uma realidade a que ninguém se pode escusar. No entanto, os planos salvadores da pátria, que continuam a pulular e que não trazem mais do que soluções conhecidas e estafadas à custa dos do costume, não acrescentam muito. Com tanto patrocínio e apoio esperava-se um resultado mais elaborado e, no mínimo, original, apesar da incontornável marca de classe que certamente carregaria.
Em vésperas de eleições, não posso deixar de apelar ao voto na CDU, no próximo domingo. Todos somos poucos para ressaltar o valioso papel que o PCP sempre teve no desenvolvimento do poder local e para levar mais longe as propostas, o projecto e o compromisso da CDU. Por todo o país, travamos uma luta desigual pela informação, pelo debate, pelo esclarecimento, insistindo em não cair no fait-divers e na campanha demagógica e caluniosa que enche os telejornais diários. No domingo, que não faltem votos na CDU para levar mais longe um projecto autárquico valioso na defesa dos interesses das populações.